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A SAGA DO TEMPLO DE SALOMÃO - PARTE III

Atualizado: 3 de nov. de 2024

Por Lucas Couto Santana


A Jornada para o Tabernáculo de Moisés

A saga do primeiro Templo de Jerusalém não começa com o próprio Salomão. Ela é um fio dourado que se entrelaça através dos séculos, tecendo uma tapeçaria sagrada que remonta aos primórdios da fé e das promessas feitas por Deus aos patriarcas de Israel. Para compreender a grandeza e o simbolismo do Templo, é preciso remontar ao início desta jornada, quando o Todo-Poderoso fez uma promessa ousada e eterna: que os descendentes de um homem, Abraão, se tornariam uma grande nação e que essa nação herdaria uma terra abençoada e próspera, chamada de Canaã (Schultz, 2009).



A história dos hebreus remonta à figura de Abraão, que recebeu um chamado divino para deixar sua terra natal e migrar para Canaã. Abraão, em sua fé inabalável, deixou sua terra natal, guiado apenas pela voz divina, e lançou as fundações da nação que um dia ergueria o Templo de Salomão. Essa promessa, feita sob as estrelas do deserto, passaria de geração em geração, atravessando a vida de seu filho Isaque e de seu neto Jacó, que viria a ser chamado Israel, o pai das doze tribos. Ao longo dos séculos, essas tribos carregariam consigo uma identidade única, firmada nos pactos que seus antepassados ​​selaram com Deus (Ademar, 2010).



Durante uma época de fome, Jacó e seus filhos, suas 12 tribos, se refugiaram no Egito, onde foram recebidos com hospitalidade graças à influência de José, filho de Jacó, que alcançou grande prestígio na corte do faraó (Nusk, 2023). No entanto, conforme relata Simon Schama (2015, p. 56), “o destino muitas vezes é moldado por provas, e o que começou como um refúgio transformou-se em cativeiro”. Por mais de quatrocentos anos, os descendentes de Abraão viveram como escravos no Egito, subjugados sob o peso de correntes que ameaçavam apagar suas esperanças e seu espírito. Mas mesmo nas profundezas do cativeiro, a promessa de Deus permanência viva, pulsando como uma chama que não poderia ser extinta (Schultz, 2009, p. 67).



Então surgiu Moisés, um homem destinado a ser o libertador do seu povo. Resgatado das águas do Nilo e criado como príncipe, ele se tornaria o instrumento divino para cumprir a promessa feita a Abraão. Ao enfrentar o faraó e liderar os hebreus para fora do Egito, Moisés não apenas libertou um povo do cativeiro, mas também renovou a aliança eterna entre Deus e Israel, conduzindo-os em uma jornada que travessia o Mar Vermelho e os levaria ao pé pelo deserto (Schama, 2015, p. 67; Ademar, 2010, p. 72).


O Incenso: Elo entre o Céu e a Terra

Durante a travessia pelo deserto, Moisés recebeu instruções divinas para a construção do Tabernáculo, um santuário portátil que seria o centro do culto e estímulo a Deus. O Monte Sinai foi o local onde Moisés recebeu os Dez Mandamentos, estabelecendo uma aliança formal entre Deus e os hebreus. Ali, no topo da montanha, Moisés recebeu instruções desenhadas para a construção do Tabernáculo. Este não seria um edifício permanente, mas sim uma tenda sagrada, móvel e acessível, que acompanharia o povo em sua jornada pelo deserto, simbolizando a presença de Deus entre eles.


Como descrito nos textos, a construção do Tabernáculo marcou o início de uma nova fase: a de um relacionamento espiritual mais profundo e íntimo entre Deus e Seu povo (Schama, 2015, Vol. 1). O propósito do Tabernáculo era servir como um ponto de união, de presença da divina, um lugar onde Deus habitava entre seu povo e onde os hebreus podiam oferecer sacrifícios e renovar sua aliança (Schama, 2015, p. 73; Haag, 2009).



Enquanto o Tabernáculo erguia-se majestosamente no centro do acampamento hebreu, havia um segredo conhecido apenas por alguns poucos: a receita do incenso sagrado. O incenso não era um perfume simples; suas fragrâncias complexas e delicadas tinham o poder de criar uma ponte entre o mundo terreno e o divino. Segundo os ensinamentos antigos, a combinação exata das especiarias criava uma conexão direta com a presença de Deus, algo que Moisés havia aprendido diretamente nas instruções dadas no Monte.


Conta-se que, enquanto Moisés estava no topo do Monte Sinai, envolto pela neblina sagrada e pela presença divina, ele recebeu uma visão extraordinária. Em meio ao silêncio, um anjo apareceu e revelou a Moisés um segredo celestial: o incenso sagrado. Ao ser mostrado o frasco que ardia suavemente, Moisés sentiu a fragrância do incenso, uma mistura de aromas que parecia transportar sua mente para um plano mais elevado. Em transe, ele conseguiu ver o Tabernáculo em sua totalidade, como se cada detalhe da tenda sagrada. se desenhasse diante de seus olhos. A fórmula do incenso, composta por estoraque, onycha, gálbano e incenso puro, não era apenas um perfume, mas uma conexão direta com a presença de Deus. Poderia preparar essa mistura, e qualquer tentativa de reprodução para uso comum seria considerada um ato de sacrilégio, punido com severidade.


Assim, o incenso tornou-se uma oferta exclusiva, um elo de ligação entre o céu e a terra, que apenas os mais dignos poderiam usar no Tabernáculo (Êxodo 30:34-38). E o Tabernáculo seria o precursor de todos os templos, o modelo sagrado que pavimentaria o caminho para a glória do Templo de Salomão e continuaria a ecoar através dos séculos como símbolo de fé, resiliência e esperança (Schama, 2015, p. 79).


O Tabernáculo: Um Símbolo de Presença Divina

O Tabernáculo de Moisés era composto por três partes: o Pátio Exterior, o Lugar Santo e o Santo dos Santos, refletindo uma estrutura hierárquica de proximidade com o divino. No Santo dos Santos, estava a Arca da Aliança, um baú revestido de ouro que continha as tábuas dos Dez Mandamentos, simbolizando a Lei e a presença direta de Deus.


Somente o Sumo Sacerdote tinha permissão para entrar no Santo dos Santos, e mesmo assim, apenas uma vez por ano, durante o Yom Kippur, para realizar o ritual de expiação pelos pecados do povo (Nusk, 2023).


O Tabernáculo era o centro espiritual e social da vida dos hebreus durante seus anos no deserto e reuniões assim até que se estabelecessem em Canaã (Ademar, 2010). Cada detalhe do Tabernáculo carregava significados profundos: os núcleos dos tecidos, os metais usados, e até mesmo a orientação em que a tenda era montada, tudo refletia aspectos da ordem cósmica e espiritual. Como explica Flávio Josefo, o Tabernáculo era uma representação do cosmos, com cada detalhe apontando para a estrutura do universo como criado por Deus (Schama, 2015, p. 79).


Em sua essência, o Tabernáculo era um reflexo do desejo humano de estar em comunhão constante com o divino. Não era um edifício imponente como os templos de pedra que viriam depois, mas tinha a capacidade de se mover, lembrando sempre que Deus caminha junto ao seu povo, esteja ele onde estiver (O Templo de Salomão, 2006).


O Guardião do Segredo


Entre as levitas, havia um grupo selecionado encarregado de preparar o incenso e manter sua composição em segredo absoluto. Uma tradição diz que o principal guardião do segredo era um jovem chamado Eleazar, neto de Arão, o Sumô Sacerdote. Desde pequeno, Eleazar foi treinado para apreciar as especiarias pelo aroma e pelo toque, e ele sabia que a responsabilidade que carregava era imensa. Ele havia herdado essa posição de seu pai, e sabia que, enquanto o Tabernáculo viajasse pelo deserto, deveria garantir que o incenso sagrado nunca faltasse, pois ele simbolizava a constante presença de Deus entre o povo.


Certa noite, enquanto Eleazar meditava dentro do Tabernáculo, algo extraordinário aconteceu. Enquanto o incenso queimava e a fumaça subia, ele notou que ela formava padrões misteriosos. Ele viu imagens, como sombras dançando, de acontecimentos passados ​​e futuros, de conquistas e provas que os hebreus enfrentariam. Entendeu que o incenso não era só um aroma agradável, mas também uma forma de comunicação divina, uma maneira pela qual Deus revelava partes de Seu plano (Nusk, 2023).


O Mistério do Maná e o Incenso

Muitos relatos antigos sugerem que o incenso do Tabernáculo estava de alguma forma conectado ao homem, o misterioso alimento que caiu do céu e sustentou os israelitas em sua jornada pelo deserto. Alguns estudiosos acreditam que o homem tinha um aroma que lembrava o incenso, uma fragrância suave e celestial, que servia para registrar aos hebreus de que estavam constantemente sob o cuidado divino (Schultz, 2009, p. 67). Os registros da época falavam que o incenso era aceso todos os dias ao amanhecer e ao entardecer, e aqueles que passavam pelo Tabernáculo sentiam-se revitalizados e em paz, como se tivessem sido preparados de se alimentar do maná.


Mas havia algo mais: uma tradição secreta dizia que o incenso tinha a capacidade de proteger o povo de legislações e doenças. Uma vez, quando uma epidemia ameaçou o acampamento, Arão, seguindo as instruções que haviam recebido de Moisés, entrou no meio do povo segurando um incensário e, enquanto a fumaça se espalhava, a praga cessou (Números 16:46-50). A partir desse momento, o incenso não era apenas um símbolo de inspiração, mas também um escudo espiritual, uma oferenda que trazia proteção (Ademar, 2010, p. 72).


A Revelação da Jornada


Na noite anterior ao Dia da Expiação, quando o Sumo Sacerdote entrou no Santo dos Santos, Eleazar foi encarregado de preparar o incenso. Ele sabia que este era o momento mais importante do ano, quando uma nação inteira dependia do perdão divino. Antes de começar, ele fez algo incomum: derramou uma lágrima na mistura de especiarias, um gesto simples, mas cheio de fé. Ele desejava que, assim como a fumaça se elevasse, suas preces silenciosas por seu povo também chegassem ao coração de Deus.


Conta-se que, naquele ano, algo extraordinário aconteceu. Ao acender o incenso, Eleazar viu que a fumaça formava a imagem de um tabernáculo feito de luz, um sinal de que o próprio Deus havia aceitado sua oferenda e que o povo poderia continuar sua jornada com segurança (Schama, 2015, p. 73; Nusk, 2023).


Essa história curiosa sobre o incenso sagrado mostra como os elementos do Tabernáculo não eram apenas objetos de espírito, mas partes de um diálogo contínuo entre Deus e Seu povo. Cada luz, cada chama acesa, era uma manifestação de algo maior, de uma promessa de proteção e de uma presença constante.


Conclusão e Continuidade da Saga

Ao examinar a saga que começou com Abraão, passando pelo Tabernáculo e culminando no Templo de Salomão, vemos uma linha contínua de fé, esperança e identidade. Cada tenda e cada pedra é um marco na construção espiritual de uma fase e de seus membros individuais. O Tabernáculo pavimentou o caminho para o Templo e, em última análise, para a continuação do legado espiritual que perdura até hoje (Nusk, 2023).


À medida que avançamos na saga do Templo, compreendemos que o Tabernáculo era muito mais que um físico local. O Tabernáculo foi, portanto, um precursor essencial para o que viria a ser o grande Templo em Jerusalém. Enquanto o Tabernáculo representava a presença contínua e itinerante de Deus, o Templo representava o descanso, a conclusão e a fixação de Sua presença entre o Seu povo, um ponto de encontro eterno entre o céu e a terra (Haag, 2009).


Para ler mais sobre o Tabernáculo: Clique aqui.


Referências Bibliográficas

Ademar, J.A. (2010). A Bíblia, a arqueologia e a história de Israel e Judá. São Paulo: Ed. Vida.

Haag, M. (2009). Os Templários: História e Mito. São Paulo: Planeta.

Nusk, M. (2023). Os Templos de Jerusalém: Simbolismo e História. Apresentação em PowerPoint.

Schama, S. (2015). A História dos Judeus: Volumes 1 e 2. Rio de Janeiro: Companhia das Letras.

Schultz, SJ (2009). A História de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova.


* Agradecimento especial ao Irmão Miguel Nuske por compartilhar seus estudos que serviram de base e também de inspiração ao presente artigo.

* As imagens foram retiradas de diversos sites da internet, sem a propensão de corresponderem fielmente ao que está no texto bíblico. A ideia de todas as imagens usadas aqui é meramente ilustrativa.


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