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A CHAVE PARA O PASSADO: A PEDRA DE ROSETA E O MISTÉRIO DOS HIERÓGLIFOS


Autor: Geraldo Marcelo Lemos Gonçalves



A descoberta de um pequeno pedaço de granito no Egito no final do século XVIII revolucionou nossa compreensão da história antiga. Essa é a Pedra de Roseta, ela foi além de ser a chave para decifrar os enigmáticos hieróglifos egípcios, tornou-se um símbolo poderoso da jornada de descoberta, inspirando gerações de exploradores, cientistas e artistas.


Neste texto, exploraremos como a descoberta da Pedra de Roseta ecoa no cinema e na vida cotidiana, servindo como uma metáfora para os momentos em que desvendamos os mistérios do mundo e de nós mesmos.


A Pedra de Roseta é um dos artefatos arqueológicos mais significativos já descobertos, conhecido principalmente por seu papel fundamental na decifração dos hieróglifos egípcios, uma escrita que, até sua descoberta, era considerada indecifrável.


Ela foi descoberta em 1799 por soldados franceses durante a campanha de Napoleão no Egito. Desenterraram acidentalmente uma peça que mudaria para sempre o campo da arqueologia e iniciaram uma nova era na egiptologia e no estudo das civilizações antigas.


Com suas inscrições em grego, demótico e hieróglifos, a Pedra de Roseta tornou- se a chave para decifrar os mistérios de uma das civilizações mais fascinantes que já existiram.


A Pedra de Roseta (Figura 01) foi encontrada na pequena cidade de Roseta (atualmente chamada Rashid) no delta do Nilo. A descoberta foi feita por acaso, durante a construção de fortificações pelos soldados franceses.


Reconhecendo a importância do artefato, o então oficial francês, Pierre-François Bouchard, ordenou que a pedra fosse enviada ao Instituto do Egito, onde estudiosos começaram a examiná-la.



Figura 01, por Awikimate, Obra do próprio, CC BY-SA 4.0 https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=84378499
Figura 01, por Awikimate, Obra do próprio, CC BY-SA 4.0 https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=84378499

Datada de 196 a.C., a Pedra de Roseta é um decreto emitido durante o reinado do faraó Ptolemeu V, que ordenava a harmonização de práticas religiosas e a veneração de Ptolemeu em todo o Egito. O que torna a pedra especialmente notável é que o decreto foi gravado em três scripts diferentes.


Foi grafado na pedra os Hieróglifos egípcios, que eram usados para textos religiosos importantes. Ao mesmo tempo uma escrita chamada de Demótico, essa era uma caligrafia usada e muito comum do Egito antigo.


Por fim tinha também o Grego antigo, que era a língua administrativa da época, devido à dinastia ptolemaica, de origem grega, que governava o Egito após as conquistas de Alexandre, o Grande.

A escrita grega sempre foi bem conhecida pelos linguistas, daí o verdadeiro valor da Pedra de Roseta, ela emergiu com a percepção de que o texto grego, que podia ser lido, poderia servir como uma chave para decifrar os outros dois scripts.


Uma vez que os três scripts tinha o mesmo teor de informação. Durante séculos, o conhecimento sobre a leitura dos hieróglifos foi perdido, e a cultura e a escrita do Egito antigo ficaram envoltas em mistério.


A Pedra de Roseta era como um enigma a ser decifrado, uma porta fechada para um mundo perdido. Cada símbolo esculpido na pedra era uma peça de um quebra-cabeça milenar. Com paciência e dedicação, os estudiosos conseguiram reunir as peças e, finalmente, abrir as portas para o antigo Egito, revelando uma civilização rica em história, arte e mistérios


Foi apenas com os esforços de estudiosos como Thomas Young, um polímata inglês, e Jean-François Champollion, um linguista francês, que a Pedra de Roseta começou a revelar seus segredos.


Young foi o primeiro a perceber que os hieróglifos não eram apenas símbolos ideográficos, mas que alguns deles representavam sons. No entanto, foi Champollion quem, em 1822, conseguiu fazer a conexão decisiva ao reconhecer que os hieróglifos usavam um sistema fonético, especialmente na transcrição de nomes próprios, como “Ptolemeu” e “Cleópatra”.


Champollion, com sua familiaridade com a língua copta, uma derivação direta do egípcio antigo, foi capaz de avançar onde outros não conseguiram, levando à decifração completa dos hieróglifos (Figura 02).



Figura 02, imagem gerada por IA
Figura 02, imagem gerada por IA

Essa descoberta abriu as portas para a leitura de milhares de textos egípcios antigos e deu início a uma nova compreensão da história, cultura, religião e sociedade do Egito faraônico.


A Pedra de Roseta não é apenas um artefato linguístico, ela simboliza a interconexão de culturas e a preservação do conhecimento. Atualmente está em exibição no Museu Britânico em Londres, onde é uma das peças mais visitadas.


A posse da Pedra de Roseta foi objeto de disputa entre o Egito e o Reino Unido, com pedidos recorrentes para seu retorno ao país de origem, refletindo a importância cultural e simbólica do artefato.


A decifração dos hieróglifos egípcios transformou a egiptologia em uma ciência acadêmica respeitável e abriu uma janela para uma civilização que influenciou profundamente o desenvolvimento da humanidade.


Além disso, ela continua a ser um emblema da busca humana pelo conhecimento e pela compreensão do passado, ilustrando como um único artefato pode ter um impacto monumental na história do estudo das civilizações antigas.


Hoje, a Pedra de Roseta é sinônimo de “chave para decifração” em muitos contextos, transcendendo seu papel original para se tornar uma metáfora do potencial da descoberta e da comunicação intercultural. Como símbolo de um momento crucial na história da arqueologia, ela permanece um testemunho do engenho humano e da persistência em desvendar os mistérios do passado.


Contudo, sua relevância transcende o mundo acadêmico. No campo da arte e do cinema, a Pedra de Roseta é frequentemente evocada como uma metáfora para momentos de descoberta que transformam narrativas e vidas.


Assim como a Pedra de Roseta desvendou segredos milenares, o cinema tem o poder de revelar camadas ocultas da experiência humana. Filmes como “2001: Uma Odisseia no Espaço” (1968), dirigido por Stanley Kubrick, explora temas de descoberta e compreensão.


O misterioso monólito negro, que guia a humanidade em momentos cruciais de evolução, é um paralelo simbólico à Pedra de Roseta. Assim como os arqueólogos se debruçaram sobre a pedra para decifrar os hieróglifos, os personagens do filme enfrentam o monólito como um enigma a ser desvendado, um desafio que redefine seu entendimento do universo.


Na vida, cada indivíduo encontra suas “Pedras de Roseta”; momentos ou eventos que funcionam como catalisadores de transformação pessoal. Esses instantes podem ser sutis ou avassaladores, mas invariavelmente deixam marcas profundas.


No Cinema, esse conceito é amplamente explorado em narrativas onde os protagonistas passam por arcos de transformação após descobrirem verdades que alteram suas trajetórias.


Um exemplo emblemático é o filme “A Sociedade dos Poetas Mortos” (1989), em que o professor John Keating, interpretado por Robin Williams, apresenta aos alunos uma nova forma de enxergar o mundo. Sua abordagem é a “Pedra de Roseta” que decifra para eles o verdadeiro significado de liberdade e expressão.


A Pedra de Roseta em si é um exemplo de como a colaboração humana pode levar a conquistas extraordinárias. Decifrar os hieróglifos foi um esforço coletivo que envolveu estudiosos como Jean-François Champollion e Thomas Young, mostrando que o avanço do conhecimento muitas vezes depende de múltiplas perspectivas.


Essa ideia ressoa no cinema, onde a produção de um filme é essencialmente um empreendimento colaborativo. Cada diretor, roteirista, ator e membro da equipe técnica contribui com um pedaço do quebra-cabeça que forma a narrativa final.


A Pedra de Roseta, nesse contexto, simboliza o momento em que todas essas contribuições se unem para criar algo que transcende o individual.


O impacto da Pedra de Roseta também ecoa em gêneros específicos do cinema, como o de aventuras arqueológicas. Franquias icônicas como “Indiana Jones” popularizaram a figura do arqueólogo como herói, explorando as conexões entre o passado e o presente.


Em “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981), vemos uma narrativa que, embora ficcional, reflete o fascínio humano por artefatos que guardam segredos de civilizações antigas. Indiana Jones, ao encontrar relíquias de valor inestimável, vive o equivalente cinematográfico da descoberta da Pedra de Roseta.


Outro exemplo notável é o filme “A Chegada” (2016), dirigido por Denis Villeneuve. Neste, uma linguista é convocada para decifrar a linguagem de seres extraterrestres. O processo de compreensão dessa linguagem se assemelha ao desafio enfrentado pelos estudiosos da Pedra de Roseta.


Em ambos os casos, a comunicação transcende barreiras culturais e temporais, revelando uma conexão universal entre diferentes formas de inteligência. Assim, a Pedra de Roseta é evocada como um símbolo de como a linguagem, seja humana ou alienígena, pode servir como uma ponte para o desconhecido.


Na vida cotidiana, a Pedra de Roseta continua a ser uma poderosa analogia para os momentos em que encontramos algo que muda completamente nosso ponto de vista. Pode ser um livro que lemos, um vídeo, uma palestra, uma conversa significativa ou mesmo uma experiência transformadora.


É nesse momento que sentimos que a “ficha caiu”, é como aquele momento que nosso filho está aprendendo as vogais, as sílabas mas não está lendo ainda. E de repente, de um momento para outro está lendo tudo, sai pela rua decifrando placas, letreiros, outdoors e etc.


No Cinema, esses momentos são retratados de forma a capturar a essência de nossas próprias descobertas. Filmes biográficos ou documentários frequentemente trazem a jornada de indivíduos que, como Champollion, enfrentam desafios aparentemente insuperáveis para alcançar uma compreensão maior.


A Pedra de Roseta não apenas desbloqueou os segredos do Egito antigo, ela também nos ensinou sobre a natureza da descoberta. Seja na vida real ou no Cinema, o ato de decifrar algo desconhecido é uma experiência transformadora que conecta o passado ao presente, o familiar ao estranho, o individual ao coletivo.


Como espectadores e como seres humanos, somos constantemente confrontados com nossos próprios “enigmas”, e é ao decifrá-los que encontramos sentido e propósito.


A ligação entre a Pedra de Roseta e o Cinema reflete como ambos servem como ferramentas de compreensão. Assim como a pedra foi um marco na arqueologia, o Cinema é um meio pelo qual exploramos as profundezas da condição humana. Por isso, o Cinema é chamado de sétima (7ª) arte (Figura 03).


Ambos nos lembram que o desconhecido não é algo a temer, mas a abraçar, pois é nele que residem as maiores descobertas e transformações. Ao olhar para o futuro, podemos continuar a nos inspirar na Pedra de Roseta, não apenas como um artefato histórico, mas como um símbolo de nosso desejo eterno de entender e de ser entendido.


Em um mundo cada vez mais globalizado e interconectado, a capacidade de decifrar códigos, linguagens e culturas diferentes se torna cada vez mais importante.


Pergunto, qual é a língua universal, o Inglês, Chinês ou Português?


A resposta se faz pelo entendimento, desde que ocorra o ato ou efeito de comunicação efetiva, independente da língua usada, isso é que importa.



Figura 03, imagem gerada por IA
Figura 03, imagem gerada por IA

A Pedra de Roseta nos ensina que, ao superar as barreiras da comunicação, podemos construir pontes entre diferentes povos e culturas. Em um futuro marcado por desafios como a mudança climática e a desigualdade social, a capacidade de trabalhar em conjunto para encontrar soluções inovadoras será fundamental.


A história da Pedra de Roseta nos inspira a enfrentar esses desafios com o mesmo espírito de curiosidade e colaboração que caracterizou os estudiosos que a decifraram.


Assim como a Pedra de Roseta foi a chave para decifrar os mistérios dos hieróglifos, descobrir um propósito em nossa vida é a nossa pedra de toque, nosso divisor de águas. É isso que muda o jogo, que traz sentido à nossa existência e nos faz saltar da cama com determinação.


Ter um propósito é o que conecta nossos passos ao significado maior de nossa jornada. É uma força que traduz os “enigmas” da vida em um caminho claro, que transforma dúvidas em certezas e dá sabor às pequenas vitórias.


No momento em que identificamos essa motivação profunda, tudo ao nosso redor ganha cor, direção e propósito, permitindo-nos enfrentar os desafios com coragem renovada e construir um legado que inspire e transforme.


Como a Pedra de Roseta foi a chave para desvendar um passado milenar, nosso propósito se torna a chave para decifrar quem realmente somos e o impacto que podemos ter no mundo.



Referências Bibliográficas:


ALLEN, James P.. A Pedra de Roseta: a chave para o Egito Antigo. São Paulo: Martins Fontes, 2008.


BUNSON, Margaret. Egito Antigo: o retrato de uma civilização. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.


HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Porto Alegre: L&PM, 2015.


WIKIPÉDIA. Pedra de Roseta. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra_de_Roseta. Acesso em: 27 janeiro 2025.



Sobre o autor:


Geraldo Marcelo Lemos Gonçalves é Bacharel em Odontologia (UFVJM, 1999), Especialista em Odontopediatria (UFVJM, 2003), Especialista em Ortodontia (UFVJM, 20100, Especialista em Implantodontia (UNIASSELVI, 2013), Habilitação em Sedação Consciente e Analgesia Inalatória (ABRASCO, 2015), Especialista em Maçonologia: História e Filosofia (UNINTER, 2018), Bacharel em Administração de Empresas (UNINTER, 2022), Mestre em Prótese Dental (SLMANDIC, 2023). Mestre Maçom Instalado, membro da A.R.L.M. Estrela Maior de Turmalina nº 243 do GOMG, Membro Correspondente da A.R.L.S. Virtual Lux in Tenebris n° 47, GLOMARON, Grau 09 do R.E.A.A. e M.R.A do Rito de York.


 
 
 

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