Por Lucas Couto Santana
"E me farão um santuário, e habitarei no meio dele. Conforme a tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos os seus pertences, assim mesmo o fareis." (Êxodo 25:8-9)
Deus disse para Moisés avisar a Faraó que se ele não "Deixar ir o meu povo!" (Êxodo 8:1). Imagine um povo recém-liberto, vagando pelas areias infinitas do deserto. Eles escaparam das correntes da escravidão no Egito, mas ainda carregaram um vazio. Um anseio por algo que os conectasse com o sagrado, uma presença que pudesse ser sentida, mesmo nas noites mais escuras e nos dias mais árduos.
A presença de Deus estava com eles, visível na nuvem que os guiava de dia e no fogo que iluminava a noite. Mas havia uma necessidade maior, algo que representasse essa presença de maneira tangível, um lugar onde os filhos de Israel poderiam adorar, buscar consolo e encontrar respostas.
Foi então que Deus revelou a Moisés um plano, um santuário como nenhum outro: o Tabernáculo. Uma tenda sagrada, uma habitação temporária, uma “tenda da congregação” onde o povo poderia se reunir, não apenas para se abrigar do sol escaldante ou da chuva ocasional, mas para estar na presença do Altíssimo. Este tabernáculo era um mistério em si, mais do que uma estrutura física; era uma sombra das coisas celestiais, um reflexo do divino no mundo terreno. Cada detalhe carregava significados profundos e ocultos, como se fosse uma porta entre o visível e o invisível, o mundano e o celestial. Como os hebreus moravam em tendas, assim também Deus escolheu a sua morada.
A palavra “tabernáculo” poderia ser traduzida de várias formas – como “habitação”, “tenda do testemunho”, ou “tenda da congregação” (Números 9:15; 18:2). Mas nenhuma dessas expressões poderia capturar completamente o mistério que ela representava. Não era apenas um abrigo; era uma representação simbólica daquilo que viria a ser o maior mistério da fé: a obra redentora de Cristo (Hebreus 9:11-12). Era uma promessa velada, um símbolo de redenção que atravessaria os séculos e ganharia pleno significado apenas milênios depois.
Dentro do tabernáculo, cada objeto e ornamento possuía um propósito e uma simbologia que ultrapassava o entendimento simples. Porque, por trás de cada símbolo, havia uma promessa – uma profecia que falava não apenas do passado, mas também de um futuro que se revelaria aos olhos dos homens (Hebreus 8:5). É preciso ter olhos atentos e coração aberto para decifrar seus significados.
O estudo do tabernáculo é uma chave – uma chave que abre portas para verdades eternas, que Deus revela suavemente, quase como um sussurro, para aqueles que têm coragem de ouvir. Por trás das cortinas do tabernáculo, existe um universo de significados esperados para serem descobertos. Porque, como disse o apóstolo Paulo, “a sabedoria de Deus é um mistério, uma sabedoria oculta que Ele preparou para nossa glória antes dos tempos eternos” (1 Coríntios 2:6-16).
O Segredo dos Materiais e da Construção
O povo de Israel trouxe voluntariamente ouro, prata, bronze, madeiras raras, linho fino e tecidos preciosos do Egito (Êxodo 11:1-3; 12:36). Cada material tinha um propósito, cada peça tinha um significado oculto.
O ouro representava a pureza e a realeza. O linho fino representava retidão. A madeira de acácia, resistente e incorruptível, simbolizava a eternidade da presença divina (Êxodo 25:1-7).
Há um profundo simbolismo presente nos materiais empregados na construção da Arca, do Tabernáculo e de seus ornamentos: o ouro e a prata, metais que, na tradição alquímica, são associados à pureza e perfeição; a madeira de acácia, que no Oriente é reverenciada como símbolo de imortalidade e renovação. Além desses elementos, havia também pedras preciosas, como o ônix, que, de acordo com a tradição ligada à Gematria, atua como um poderoso amplificador de energia; e os linhos finos, que representam a pureza que se espera da casta sacerdotal.
Existe um segredo maior por trás de cada detalhe. Deus deu a Moisés instruções precisas: medidas exatas, núcleos específicos, materiais selecionados. Tudo deveria ser feito conforme o modelo celestial que ele havia visto no monte. Os artífices Bezalel e Aoliabe (Êxodo 31:2-6) se encheram de sabedoria, e de ciência, para que façam tudo o que Moisés ordenou.
Por que tanto rigor? Porque o Tabernáculo não era apenas uma tenda — era um reflexo das realidades celestiais, uma réplica do que se encontra no trono de Deus, algo que nenhum homem poderia imaginar por si mesmo.
A Estrutura do Tabernáculo: Um Portal Entre o Céu e a Terra
O Tabernáculo era uma tenda retangular, construída para ser montada e desmontada a qualquer momento, dado seu caráter provisório e destinado a viagem. Suas medidas eram: 30 côvados de comprimento por 10 de largura e 10 de altura (Êxodo 26:15-30); e seu pátio media 100 côvados de comprimento por 50 de largura (Êxodo 27:9-19).
O Tabernáculo foi dividido em três partes, cada uma mais misteriosa que a outra. Primeiro, o Pátio Exterior, onde o altar de bronze se erguia imponente, recebendo os sacrifícios diários. Mais além, o Lugar Santo, onde apenas os sacerdotes puderam entrar, cuidando da lâmpada que nunca se apagava, acendendo o incenso sagrado que subia como oração constante, já escrito no texto anterior. E, finalmente, escondido por um véu revelado, estava o Santo dos Santos, onde apenas o sumo sacerdote pôde entrar uma vez por ano. Lá a Arca da Aliança, o trono de Deus na Terra, guardava dentro de si as tábuas da Lei, a vara de Arão e o maná que caiu dos céus.
A Arca
"Também fará uma arca de madeira de cetim; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura, de um côvado e meio, e de um côvado e meio, a sua altura." (Êxodo 25:10)
A Arca do testemunho, Arca do concerto ou aliança com Deus, Arca sagrada ou santa e Arca de teu poder ou tua força, era uma caixa de madeira de cetim, coberta de ouro por dentro e por fora. Tinha 2 côvados e meio de comprimento, 1 e meio de largura e 1 e meio de altura. Havia sobre ela uma coroa de ouro, e 4 argolas também de ouro pelas quais passavam as varas de madeira de cobertas com ouro que serviam para carregá-la (Êxodo 25:10-16). No interior da arca havia a vara de Arão, a tábua com os 10 mandamentos e o maná (Hebreus 9:4).
Ninguém sabe o que aconteceu com a arca. Há várias teorias desenvolvidas . Segundo o livro apócrifo de 2º Macabeus 2:4-7, ela teria sido levada pelo profeta Jeremias e escondida numa caverna; imagina-se que ele teria feito isso para observar-la, pois sabia que Jerusalém seria invadida. E a bíblia diz que João a viu no céu (Apocalipse 11:19). Ela representava a presença de Deus, mas hoje temos o seu Espírito Santo!
A Arca, coberta de ouro puro, era o coração do Tabernáculo, simbolizando o próprio trono de Deus. Sobre ela, dois querubins de ouro se inclinavam, como que protegendo um segredo, guardando um mistério que transcende o tempo.
O Propiciatório
"Também fará um propiciatório de ouro puro; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e sua largura, de um côvado e meio." (Êxodo 25:17)
A arca escondida no “Santo dos Santos” (Sancta Sanctorum), que era uma parte separada do Lugar Santo por uma cortina grossa também chamada de véu, dentro do tabernáculo. Ali, apenas o sumo sacerdote poderia entrar, uma vez por ano (no dia da expiação - Levítico 16), para fazer sacrifícios pelos seus pecados e pelos pecados do povo.
O Sumo Sacerdote entrava com uma corda amarrada à cintura, pois se perderia os sentidos, ninguém poderia entrar para resgatá-lo, senão morreria. Algo tão especial, deveria ter também uma tampa especial, essa tampa se chamava Propiciatório (Êxodo 25:17-22), que pode ser traduzido como coberto ou tampa.
O Candelabro (Êxodo 25:31-40) era uma peça única, feita de ouro puro, pesando 30 quilos, com suporte para 7 lâmpadas, simbolizando a união perfeita e a separação de Deus. O número 7 representa a perfeição. Diariamente, o sumo sacerdote trocava os pavios e reabastecia as lâmpadas com azeite de oliva, mantendo uma luz acesa, que iluminava a mesa dos pães da proposição e o altar de incenso, simbolizando a presença constante da glória de Deus. O candelabro representa Cristo como a Luz do mundo (João 8:12; 9:5), nos convidando a refletir sobre como a glória de Deus brilha em nossas vidas (Mateus 5:14; 1 João 1:7).
Uma Mesa
"Também fará uma mesa de madeira de cetim; o seu comprimento será de dois côvados, e a sua largura, de um côvado, e a sua altura, de um côvado e meio." (Êxodo 25:23)
A mesa, feita de madeira de acácia (cetim) e revestida de ouro, mede 90 cm de comprimento, 45 cm de largura e 68 cm de altura. Ela está localizada no meio do Lugar Santo, perto do castiçal. Sobre a mesa foram colocados os pães da proposição, também conhecidos como pães ázimos, totalizando 12 pães em homenagem às 12 tribos de Israel. Esses pães eram trocados a cada 7 dias.
A mesa representa a união, pois é um lugar de encontro e confraternização. Os 12 pães simbolizam a comunhão entre as tribos.
Uma Pia
"Farás também uma pia de cobre com a sua base de cobre, para lavar; e a porás entre a tenda da congregação e o altar e deitarás água nela." (Êxodo 30:18)
A pia ou bacia tinha uma função crucial no serviço religioso do Antigo Testamento. Era feita de cobre e colocada entre o altar e a tenda da congregação, instalada como um lavatório onde os sacerdotes lavavam as mãos e os pés antes de entrar na tenda para oferecer incenso e realizar sacrifícios (Êxodo 30:18). Localizada no átrio do Tabernáculo, simboliza a purificação, a limpeza e a renovação.
O Altar de Cobre
"Farás também o altar de madeira de cetim; cinco côvados serão o comprimento, e cinco côvados, a largura (será quadrado o altar), e três côvados, a sua altura." (Êxodo 27:1)
Originalmente, em hebraico, altar significa lugar de sacrifício. O altar de cobre ou altar do holocausto se situava do lado de fora da tenda e foi usado para oferecer os sacrifícios do povo a Deus.
Quando alguém pecava, escolhia um animal, conforme as suas posses de forma voluntária e de acordo as suas possibilidades. Era necessário que esse animal fosse perfeito - sem manchas ou ferimentos. Ele era levado aos sacerdotes que o mataram e o colocaram sobre o altar. Um detalhe muito importante é que esse altar deveria ser fechado sempre aceso, eles jamais poderiam deixar seu fogo se apagar (Levítico 6:12,13).
Conclusão: Uma Jornada Eterna
O Tabernáculo não era apenas uma estrutura móvel que acompanhava os israelenses no deserto. Era um mistério ambulante, uma declaração de que o Deus do universo não habita apenas nos céus distantes, mas também nas tendas frágeis do coração humano. Ele era um prenúncio, uma promessa, uma sombra do que viria a se realizar em plenitude.
As cortinas se fecharam, as tendas foram desfeitas, mas o mistério do Tabernáculo persiste. Hoje, ele vive em cada ato de fé, em cada oração sussurrada, em cada coração que busca um encontro com o divino. E assim, o legado de uma tenda no deserto se torna eterno, perpetuando a esperança e a promessa de que, onde quer que nos sirvamos, Deus está conosco, habitando entre nós.
Referências Bibliográficas
• Barrow, M. O Tabernáculo. Palavra Prudente , acessada em 26/10/2024 .
• Bíblia Sagrada, Tradução de João Ferreira de Almeida.
• Brown, J. A Tipologia do Antigo Testamento. EditorialVida, 2001.
• Wenham, GJ O Tabernáculo e seu Simbolismo. Eerdmans, 2005.
1 Quem desejar ver uma maquete em tamanhos proporcionais aos reais definidos na bíblia sobre o Tabernáculo, recomendo conhecer o Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus, situado em São Paulo no bairro do Brás. Além da Igreja em si, construída com pedras e tâmaras trazidas de Jerusalém, há um passeio onde se pode conhecer a história do antigo testamento.
2 Para mais informações ver o episódio do History Channel a respeito, que pode ser acessado no youtube no seguinte link: <https://youtu.be/VNOGvrd5w7s?si=9h_v6-i68VX5QePw>
*As imagens foram retiradas de diversos sites da internet, sem a propensão de corresponderem fielmente ao que está no texto bíblico. A ideia de todas as imagens usadas aqui é meramente ilustrativa.
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