Por Lucas do Couto Santana
Em tempos de avanços tecnológicos acelerados, a Maçonaria, como instituição milenar dedicada à evolução moral, intelectual e espiritual, encontra um vasto campo de oportunidades ao adotar ferramentas digitais para potencializar sua missão. Este artigo propõe uma reflexão sobre como a tecnologia pode ser utilizada de forma integrada e eficaz em benefício da Ordem Maçônica, mantendo sua essência e valores tradicionais.
1. A Tecnologia como Instrumento de Conexão
A fraternidade maçônica, com suas bases na união e no diálogo, pode encontrar nas ferramentas digitais uma extensão poderosa para sua interação. Plataformas como grupos de mensagens instantâneas e externos virtuais possibilitam que irmãos separados por longas distâncias se conectem em tempo real, debatam ideias e fortaleçam os laços de irmandade. Por meio de videoconferências, sessões de estudos ritualísticos podem ser realizadas, democratizando o acesso ao conhecimento maçônico.
Exemplo prático: A utilização de plataformas seguras como Zoom ou Microsoft Teams para reuniões administrativas ou discussões filosóficas de forma privada e protegida.
2. Gestão Digital para a Modernidade Maçônica
A administração de uma Loja exige organização e eficiência. Sistemas de Gestão por Conteúdo (SGC) podem ser utilizados para criar sites dinâmicos que centralizem informações, calendários de eventos e notícias. Ferramentas como Google Workspace ou Microsoft 365 podem ser adotadas para armazenamento seguro de documentos, além de facilitar a colaboração entre os irmãos.
Sugestão prática:
Um site funcional com área restrita a membros, incluindo acesso a arquivos, atas e espaço para comunicação direta com a secretaria. Isso, inclusive, vem sendo desenvolvido pela CMSB em seu próprio site.
3. A Comunicação como Pilar de Expansão
As plataformas de mídia social podem ser utilizadas de forma estratégica para desmistificar a Maçonaria, atraindo novos assuntos específicos e promovendo seus valores. As páginas no Facebook, Instagram e Twitter podem compartilhar conteúdos institucionais, como palestras abertas e iniciativas beneficentes, sempre com uma linguagem acessível e adequada.
Além disso, blogs e boletins informativos podem reforçar a transparência e manter os membros informados. Feeds RSS são uma maneira prática de divulgar notícias atualizadas diretamente aos dispositivos dos irmãos.
4. O Virtual e o Simbólico: Oportunidades no Metaverso
A criação de espaços maçônicos virtuais no Metaverso representa uma oportunidade única de explorar o simbolismo da Maçonaria em um novo ambiente. Templos virtuais, inspirados em estruturas físicas, podem ser usados para eventos, palestras e até mesmo apresentações públicas que introduzem os fundamentos da Ordem de forma interativa e inovadora.
Proposta prática: A construção de um templo virtual que representa o ideal maçônico, aberto à visitação pública para desmistificar a Ordem, bem como realizar reuniões nesses ambientes para ampliação do conhecimento maçônico.
5. Preservação e Divulgação do Conhecimento
A tecnologia pode ser utilizada para digitalizar e preservar arquivos históricos, tornando-os acessíveis para pesquisas e estudos. Wikis internacionais, criados por especialistas, podem centralizar informações sobre rituais, graus e história, enriquecendo o conhecimento dos membros de forma colaborativa.
6. Ética e Segurança na Era Digital
A adoção da tecnologia deve ser feita com atenção à privacidade e segurança dos dados. É essencial que Lojas e Grandes Orientes utilizem criptografia para proteger comunicações sensíveis e sigam diretrizes claras quanto ao uso de redes sociais por seus membros.
Exemplo de diretriz: Evitar a exposição de símbolos ou rituais em espaços públicos virtuais, mantendo o decoro e a discrição que caracterizam a Maçonaria.
6.1. O Valor da Sigilosidade Maçônica
A sigilosidade é um pilar que diferencia a Maçonaria de outras instituições. Mais do que guardar segredos, ela representa:
Uma proteção simbólica: Garantir que o aprendizado seja experienciado progressivamente, permitindo que o homem compreenda os ensinamentos em etapas.
Uma barreira de introspecção: Impulsionar ou iniciar a busca internamente por respostas, sem depender de fontes externas que possam diluir o significado.
Um compromisso ético: Ao manter a confidencialidade, o maçom demonstre respeito à tradição e aos irmãos.
No entanto, o mundo virtual, com a sua cultura de transparência e partilha, frequentemente confronta esse princípio.
6.2. A Publicidade do Conhecimento Maçônico na Internet
Com a popularização da internet, conteúdos antes restritos à vivência interna da Maçonaria, como rituais, símbolos e interpretações, tornaram-se facilmente acessíveis. Plataformas digitais, como fóruns, blogs e redes sociais, expõem:
Descrições de rituais e graus.
Análises de símbolos maçônicos.
Discussões sobre os princípios da Ordem.
Essa opinião traz consequências importantes:
Democratização do conhecimento: Qualquer interessado pode acessar informações maçônicas sem vivenciar a experiência ritualística.
Diluição do simbolismo: A leitura superficial, sem contexto ou orientação, pode desvirtuar o significado profundo dos símbolos e rituais.
Curiosidade aumentada: Paradoxalmente, a exposição pode atrair novos interessados, motivados pela curiosidade em explorar o que encontram online.
6.3. A Ausência do Segredo no Mundo Virtual
A modernidade trouxe muito do passado de volta: A Maçonaria Dissecada de Samuel Prichard. As 3 Batidas Distintas na Porta da Franco Maçonaria (autoria desconhecida). Léo Taxil e suas publicações, resultando na mentira do século. Uma mentira que sempre ressurge como verdade. Trouxe também movimentos “antimaçonaria”, como o filme “Forces Occultes”, “Filme sobre a Maçonaria - Ritual Maçônico – Legendado”, desenvolvido pela Alemanha Nazista quando da ocupação da França em 1943 e os casos de homicídios atribuídos à Maçonaria nos EUA (William Morgan, Nova Iorque, 1826) e na Itália (inclusive com envolvimentos na máfia).
A Maçonaria, enquanto instituição, não busca se esconder, mas deixa velado seu método de aprendizagem apenas para os iniciados. Não há ausência do segredo absoluto, especialmente em tempos de tecnologia, mas isso exige que:
O maçom seja o guardião de sua própria experiência: Entendendo que o valor do conhecimento não está em sua ocultação, mas em sua vivência e aplicação pessoal.
A Ordem se adapta à exposição pública: Trabalhando para desmistificar preconceitos e apresentando-se como uma instituição filosófica e ética, sem revelar o que pertence ao íntimo do iniciado.
6.4. Como o Maçom Deve Posicionar-se no Mundo Virtual
A era digital exige ao homem maçom uma postura equilibrada entre o uso responsável das ferramentas tecnológicas e a preservação da essência da Ordem. Para isso, propõe-se:
Respeito ao que é confidencial: Evitar a publicação de detalhes rituais ou interpretações pessoais em espaços públicos.
Educação digital: Os irmãos devem ser orientados sobre os limites éticos e legais do compartilhamento de informações maçônicas.
Uso consciente das redes sociais: Participar de debates em plataformas digitais com discernimento, reforçando os valores éticos e filosóficos da Ordem.
Defesa do simbolismo: Promover a compreensão de que o simbolismo maçônico não se limita à informação textual, mas está profundamente ligado à experiência prática.
6.5. A Sigilosidade como Aliança com a Transparência
É possível preservar o sigilo maçônico ao mesmo tempo em que se promove uma imagem pública acessível e positiva da Ordem. Para isso:
Criação de conteúdos educativos: Oferece materiais que explicam os valores e princípios maçônicos sem comprometer os aspectos ritualísticos.
Participação institucional nas mídias digitais: As Lojas e Grandes Orientes podem assumir um papel ativo, garantindo que uma narrativa sobre a Maçonaria seja representativa e respeitosa.
Código de conduta digital: As Potências devem estabelecer diretrizes claras sobre o comportamento online dos irmãos, protegendo a imagem da Ordem e a experiência iniciada.
A Grande Loja do Rio Grande do Sul na XXXII Assembleia Geral da CMSB em 2003 preocupada com o comportamento das mãos nas redes sociais encaminha uma proposição apresentada por Aug. Loja Simb. "Jacques de Molay" Nº 173 da Grande Loja Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul.
Qual deve ser o comportamento de um maçom na rede? Qual deve ser o comportamento de uma autoridade maçônica na rede? Qual deve ser o uso de uma entidade maçônica (loja ou potência) na rede? Qual deve ser o papel e os requisitos mínimos para um moderador? Temos condições de sigilo para fazermos uma Loja Virtual? Como usar em favor da sociedade os recursos da Internet? As listas podem ter nomes de entidades sem a aprovação desta? Que atitude tomar com um irmão que é indiscreto? Qual a competência para apurar faltas maçônicas na internet.
Outros temas correlatos, tais como a intervenção oficial das Obediências na criação de sites e listas, e disponibilização de tecnologia e profissionais para guardar o sigilo.
7. Propostas do Uso da Tecnologia para a Maçonaria
A Maçonaria, enquanto instituição que equilibra tradição e progresso, pode se beneficiar enormemente das novas tecnologias para expandir seus horizontes e aprimorar sua atuação no mundo contemporâneo.
O potencial tecnológico vai além da comunicação e organização, alcançando também a preservação histórica, a experiência ritualística e o engajamento global dos membros. Este artigo apresenta propostas ousadas e inovadoras, explorando como as ferramentas emergentes podem transformar a Ordem Maçônica, mantendo sua essência e valores.
7.1. Inteligência Artificial (IA) como Ferramenta para a Maçonaria
Proposta:
Assistentes Virtuais Maçônicos: Desenvolvimento de assistentes baseados em IA para responder perguntas de aprendizes, auxiliar no estudo de rituais e fornecer orientações personalizadas sobre simbolismo.
IA para Análise de Dados Maçônicos: Ferramentas de análise preditiva que avaliam padrões de crescimento e retenção de membros, auxiliando na formulação de estratégias de recrutamento.
Benefícios:
Atendimento personalizado e acessível 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Decisões estratégicas baseadas em dados.
7.2. Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR)
Proposta:
Rituais Virtuais Imersivos: Uso de realidade virtual para simular a experiência ritualística em templos históricos reconstruídos digitalmente.
Tours Virtuais: Visitas guiadas a templos históricos e simbólicos para candidatos e curiosos, utilizando AR para enriquecer a experiência com informações sobre os elementos simbólicos. Inclusive já usadas por algumas instituições maçônicas.
Benefícios:
Expansão do acesso ao conhecimento ritualístico e histórico.
Atração de novas gerações, familiarizadas com experiências tecnológicas imersivas.
7.3. Blockchain e Segurança de Informações
Proposta:
Registro Maçônico Descentralizado: Uso de blockchain para armazenar documentos importantes, como atas, certificados de iniciação e históricos de membros, garantindo segurança e imutabilidade.
Votação Digital Segura: Implementação de sistemas de votação baseados em blockchain para decisões administrativas e eleições internacionais.
· “Livro Amarelo e Livro Negro”: usar o blockchain como ferramenta que auxilie no registro compartilhado desses dados;
· “Indicados à Iniciação”: servir de banco de dados para todas as potências saberem de indicações ou não em outras potências.
· Maçom Regular: Servir como banco de dados para registro e identificação dos maçons regulares.
Benefícios:
Preservação digital segura.
Processos internos transparentes e à prova de manipulações.
7.4. Metaverso Maçônico
Proposta:
Templos Virtuais no Metaverso: Criação de espaços dedicados a reuniões, palestras e eventos simbólicos em plataformas de metaverso, acessíveis globalmente.
Eventos Globais no Ambiente Virtual: Organização de conferências internacionais no metaverso, promovendo o intercâmbio cultural e filosófico entre maçons de diferentes países.
Benefícios:
Integração global da fraternidade.
Redução de custos e barreiras geográficas.
5. Gamificação da Experiência Maçônica
Proposta:
Plataformas Educacionais Gamificadas: Desenvolvimento de aplicativos ou jogos que ensinem rituais, história e simbolismo maçônico de forma interativa e lúdica.
Reconhecimento Digital: Introdução de insígnias ou medalhas virtuais para membros que completam estudos ou classificações para a Loja.
Benefícios:
Aumentar o engajamento, especialmente entre os mais jovens.
Aprendizado intuitivo e divertido.
7.6. Preservação Histórica e Digitalização
Proposta:
Arquivo Digital Global: Criação de uma biblioteca digital maçônica centralizada, com acesso restrito, contendo manuscritos históricos, rituais antigos e documentos relevantes.
Digitalização de Templos e Artefatos: Uso de tecnologias de digitalização 3D para preservar e catalogar templos, móveis e peças históricas.
Benefícios:
Preservação da memória maçônica para futuras gerações.
Facilitação de pesquisas históricas e estudos filosóficos.
7.7. Internet das Coisas (IoT) em Templos Maçônicos
Segundo o Pew Research Center, importante instituição que analisa tendências, mais de 80% dos especialistas em tecnologia dos Estados Unidos acreditam que o conceito de Internet das Coisas se consolidará em nossa rotina até 2025. Para quem nunca ouviu falar do conceito, ele implica que todos os aparelhos, objetos e sistemas totalmente conectados à internet e uns aos outros. Para isso, traz à baila algumas propostas.
Propostas:
Templos Inteligentes: Implementação de sensores e dispositivos conectados para monitorar condições ambientais (iluminação, temperatura, segurança) em templos maçônicos.
Gerenciamento Automatizado: Controle remoto de iluminação simbólica e equipamentos audiovisuais durante rituais.
Benefícios:
Economia de energia e maior controle sobre o ambiente ritualístico.
Experiência mais confortável e segura para os membros.
7.8. Redes Sociais e Influência Digital
Proposta:
Campanhas de Divulgação: Utilização de redes sociais para promover valores maçônicos, com conteúdos que eduquem o público geral sobre a Ordem e seu impacto social.
Influenciadores Maçônicos: Apoio a membros que produzem conteúdos educativos ou filosóficos em plataformas digitais.
Benefícios:
Melhoria da imagem pública da Maçonaria.
Estímulo ao recrutamento de novos membros.
7.9. Educação Maçônica Digital
Proposta:
Plataformas de Ensino à Distância: Desenvolvimento de cursos online para formação e aperfeiçoamento de membros, com módulos interativos sobre graus simbólicos e filosóficos, como já existe na UNINTER pós-graduação sobre Maçonologia.
Workshops Virtuais: Realização de treinamentos e palestras por especialistas, disponíveis para membros de todo o mundo, que já vem sendo realizada pela Lojas Virtuais Lux In Tenebris n. 47 e pela Luz e Conhecimento.
Benefícios:
Democratização do acesso ao conhecimento maçônico.
Formação contínua e de qualidade.
Conclusão: O Futuro é Agora
A Maçonaria, como instituição que sempre valorizou o progresso, pode integrar as ferramentas digitais ao seu trabalho, desde que respeite seus princípios e sua missão. Ao adotar a tecnologia, a Ordem reforça sua relevância no mundo contemporâneo, promovendo seus valores de fraternidade, conhecimento e evolução humana.
A Maçonaria enfrenta o desafio de se adaptar a um mundo em que a informação é extremamente acessível. No entanto, a essência do sigilo maçônico não está ameaçada pela exposição, mas pela incompreensão. Ao adotar uma postura ativa no ambiente virtual, reforçando seus valores e protegendo o que é essencial, a Ordem pode não apenas preservar sua relevância, mas também prosperar como uma luz de sabedoria e ética em um mundo cada vez mais conectado. O segredo maçônico, afinal, não está nas palavras que podem ser lidas, mas nas vivências que só podem ser experimentadas.
Portanto, pretende-se que o mundo virtual seja terreno para construção de pontes entre a tradição e a modernidade, utilizando-se a tecnologia como um instrumento para ampliar a luz do conhecimento e propagar os ideais maçônicos às futuras gerações, valores morais como os de liberdade, igualdade, fraternidade, amparo, amor fraternal e verdade.
Referências Bibliográficas
CMSB - Confederação Maçônica do Brasil. "O uso da tecnologia na gestão administrativa das Lojas Maçônicas." Disponível em: <https://cmsb.org.br/wp-content/uploads/2020/04/GEST%C3%83O-DE-PESSOAS-APOSTILA-UniCMSB.pdf>, acessado em 18 de novembro de 2024.
2. INTERNET LODGE. “The Internet Lodge Technology Sub-Group Report 2010”. Disponível em: <https://internet.lodge.org.uk/images/docs/tecnologia/tsg2010.pdf>. Acesso em: 18 de novembro de 2024.
3. UNINTER. Pós-graduação em Maçonologia. Disponível em: <https://www.uninter.com/pos-graduacao/a-distancia/maconologia-historia-e-filosofia/> Acesso em: 18 de novembro de 2024.
Conselho Blockchain. "Como o Blockchain pode revolucionar o armazenamento de dados seguros." Disponível em: <https://www.blockchain-council.org>. Acesso em: 18 de novembro de 2024.
Zoom Comunicações de Vídeo. Disponível em <https://explore.zoom.us/pt/trust/security/> Acesso em: 18 de novembro de 2024.
6. GOMES, Márcio dos Santos. A Maçonaria e o impacto das novas tecnologias. O Ponto Dentro do Círculo, 20 maio 2024. Disponível em: <https://opontodentrodocirculo.wordpress.com/2024/05/20/a-maconaria-e-o-mpacto -das -novas -tecnologias/>. Acesso em: 18 de novembro de 2024.
Google. "Espaço de trabalho para organizações colaborativas." Disponível em: https://workspace.google.com. Acesso em: 18 de novembro de 2024.
Segunda Vida. "Criação de espaços virtuais imersivos para eventos e educação." Disponível em : https://secondlife.com. Acesso em: 18 de novembro de 2024.
9. VINHOLA, BG; BALDISSERA, R. Entre o segredo e o discreto: a comunicação organizacional para a gestão da (in)visibilidade da Maçonaria. Intercom, Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, São Paulo, v. 47, e2024105, 2024. Disponível em: https://doi.org /10.1590/1809-58442024105pt. Acesso em: 18 de novembro de 2024.
Comments