Por Lucas do Couto Santana
Introdução
A Maçonaria, como instituição filosófica e espiritual, encontra em São João Batista um símbolo profundo de integridade, purificação e coragem moral. Celebramos, em 24 de junho, não apenas o nascimento deste santo, mas também a fundação das Grandes Lojas Inglesas em 1717. Esta data, que une o passado e o presente, nos convida a uma reflexão profunda sobre a conduta maçônica e os princípios que nos guiam.
Integridade Moral em São João Batista
São João Batista é um exemplo emblemático de integridade moral. Sua vida, conforme registrada nos Evangelhos, foi dedicada à proclamação da verdade e à denúncia do vício. Ele exortava o povo ao arrependimento e à preparação para a chegada do Messias. A passagem bíblica que narra sua morte é especialmente significativa: "E imediatamente, enviando o rei um carrasco, mandou que lhe trouxessem a cabeça. Ele foi, degolou-o no cárcere, e trouxe a cabeça num prato, e a deu à jovem; e a jovem a deu à sua mãe" (Marcos 6:27-28).
Esta trágica conclusão da vida de João Batista é uma poderosa reflexão sobre os riscos e sacrifícios associados à defesa da verdade e da justiça. A sua decapitação, provocada por Herodes a pedido de Herodias, é um testemunho da coragem moral de João Batista, que preferiu a morte a comprometer seus princípios.
Filosofia da Purificação
O batismo pela água, central na pregação de João Batista, simboliza a purificação e a renovação espiritual. Na filosofia maçônica, esta purificação é uma metáfora para o trabalho contínuo de aperfeiçoamento interior. Tal como a água lava as impurezas, os maçons buscam eliminar os excessos e imperfeições, moldando-se como pedras vivas para a construção do Templo interior.
*Heráclito*, um dos grandes filósofos pré-socráticos, disse: "Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois novas águas correm sobre nós". Esta citação filosófica complementa a visão de purificação maçônica, destacando a constante transformação e renovação necessárias para o crescimento espiritual e moral.
Conexão com a Filosofia
A filosofia oferece uma rica base para compreender a vida e os ensinamentos de *São João Batista. **Platão, em sua Alegoria da Caverna, descreve a jornada do conhecimento como a ascensão da escuridão para a luz. Da mesma forma, **João Batista*, através de sua pregação e sacrifício, nos conduz da ignorância à iluminação.
Além disso, a ética socrática, com seu foco na vida examinada, ressoa fortemente com a integridade de João Batista. Sócrates afirmava que "uma vida sem exame não vale a pena ser vivida". João Batista, através de sua vida e morte, exemplificou este princípio, vivendo uma vida dedicada ao exame constante da moralidade e da justiça.
Conexões entre São João Batista e São João Evangelista
Permitam-me estabelecer um elo mais profundo entre São João Batista e São João Evangelista, explorando suas conexões e significados. Ambos compartilham o nome "João", mas desempenham papéis distintos na história cristã. João Batista, o precursor, preparou o caminho para Jesus Cristo, batizando-o no rio Jordão e anunciando a vinda do Messias. João Evangelista, o autor do quarto Evangelho, testemunhou a vida, morte e ressurreição de Jesus, revelando a natureza divina de Cristo.
João Batista simboliza a purificação e o arrependimento, chamando as pessoas à renovação através do batismo. Sua mensagem ecoa a necessidade de preparar o espírito para receber a verdade divina. João Evangelista, por outro lado, é o apóstolo do amor e da espiritualidade, destacando-se como o "discípulo amado". Seus escritos profundos e místicos nos conduzem à compreensão da natureza divina de Jesus e da essência do amor fraterno.
Juntos, São João Batista e São João Evangelista formam um equilíbrio perfeito: o precursor e o evangelista, o deserto e a comunidade, o batismo e a Eucaristia. João Batista nos convida a uma vida de integridade e arrependimento, enquanto João Evangelista nos chama a abraçar a fé e o amor. Esta complementaridade simboliza a jornada maçônica de busca pela verdade, sabedoria e iluminação.
Reflexão Moral a partir da Decapitação de João Batista
A decapitação de João Batist* nos oferece uma profunda reflexão moral. Sua morte, causada pela corrupção e pela busca de poder, destaca a importância da resistência moral contra a injustiça. Como maçons, somos chamados a seguir o exemplo de João Batista, mantendo nossa conduta impecável e nossa consciência limpa, mesmo diante da adversidade.
Neste contexto, a filósofa Hannah Arendt, em sua análise sobre a "banalidade do mal", nos alerta sobre o perigo da conformidade cega e da aceitação passiva da injustiça. João Batista, ao confrontar Herodes, demonstrou a importância de resistir ao mal, mesmo quando isso significa enfrentar consequências severas. Sua coragem nos desafia a considerar: "Quando a espada estiver sobre a nossa cabeça, quando nossa vida e nossa família estiverem em jogo, seríamos capazes de manter nossa moral inabalável? Nos silenciaríamos diante da injustiça? Seríamos capazes de continuar a busca pela verdade e pela justiça, vivendo com dignidade e amor fraterno?"
Conclusão
São João Batista, com sua vida e morte, continua a ser uma fonte de inspiração para todos os maçons. Sua integridade, coragem e dedicação à purificação espiritual são exemplos a serem seguidos.
Para encerrar, deixo-vos com uma reflexão filosófica que encapsula a essência da vida de São João Batista e a busca maçônica pela iluminação: "Assim como uma vela não pode queimar sem fogo, os homens não podem viver sem uma vida espiritual," disse Buda. Para um maçom, é dever absoluto seguir na senda da chama espiritual que ilumina nossos corações e nossas mentes, sob pena de se tornarmos um sino cujo címbalo não ressoa.
Referências
- Bíblia Sagrada, Evangelho de Marcos, capítulo 6, versículos 27-28.
- Heráclito. Fragmentos.
- Platão. "A República."
- Epicteto. "Discursos e Encheiridion."
- Sócrates, como citado em Platão. "Apologia de Sócrates."
- Buda. Ensinamentos diversos.
- Arendt, Hannah. "Eichmann em Jerusalém: Um Relato sobre a Banalidade do Mal."
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