Autor: Aislan fabrício Nunes da Silva Pansardis
A∴R∴L∴S∴ Templários da Paz, nº 3969
Or∴ São José dos Campos - SP
Breve história dos Painéis
Os painéis maçônicos, ou tábuas de delinear, são emblemas cuja história nos remonta diretamente às pranchetas utilizadas pelos maçons medievais. Estes elementos visuais carregam uma tradição secular, preservando e transmitindo conhecimentos essenciais da arte maçônica através das gerações.
Com o tempo, os painéis foram "herdados" pelos Maçons Especulativos, que adaptaram os símbolos e práticas dos maçons operativos para propósitos mais abstratos e filosóficos. Suas reuniões ocorriam em locais discretos, como tavernas e outros espaços reservados, onde podiam discutir seus ensinamentos longe de olhares curiosos.
Nestas reuniões, os painéis eram cuidadosamente traçados ou desenhados no chão. Ao final de cada encontro, os desenhos eram desfeitos, preservando o sigilo das reuniões.
A existência desses painéis é confirmada por documentos datados de 1730, fornecendo uma janela valiosa para compreender as tradições e rituais maçônicos em um período crucial de transição entre a maçonaria operativa e a especulativa.
Robert Lomas, em "O Poder Secreto dos Símbolos Maçônicos", relata a existência de um pergaminho do século XV contendo sete painéis adotados por Lojas Especulativas, evidenciando a continuidade e evolução das práticas maçônicas ao longo dos séculos.
Este pergaminho ficou conhecido como pergaminho de Kirkwall, foi entregue em 27 de janeiro de 1786 por William Graham, membro da Loja Kirkwall Kilwinning.
Este é o artefato mais antigo que se tem registro que faz referência a painéis dentro de lojas maçônicas.
Seu conteúdo representa os Sete Passos, um conceito fundamental na jornada iniciática do maçom, simbolizando o caminho metafórico do Aprendiz do Ocidente para o Oriente da loja.
Figura 1- Imagem do livro The Kirkwall Scroll
Evolução do Painel
O sistema de desenhar painéis no chão, embora repleto de significado simbólico, apresentava alguns inconvenientes e dificuldades práticas. Esta prática, herdada dos maçons operativos, exigia não apenas habilidade artística, mas também paciência e dedicação. Os materiais utilizados para traçar os Painéis eram Giz, Carvão e Argila. tais materiais, assim como todos os elementos em uma loja, ganharam significados filosóficos e de ensinamentos:
• Giz (Chalk): Representando a liberdade e a capacidade de deixar uma marca clara e visível, o giz era frequentemente utilizado para delinear os contornos principais dos símbolos.
• Carvão (Charcoal): Simboliza o fervor a transformação e a capacidade de criar a partir do calor, pois fogo é vida e o calor é capaz de derreter até o mais duro dos metais. O carvão era empregado para preencher áreas mais escuras e criar contrastes.
• Argila (Clay): Simboliza o zelo e a conexão com a terra, que dela viemos e a ela retornaremos. A argila era usada para adicionar textura e profundidade aos desenhos, simbolizava, também, a capacidade do maçom de moldar seu próprio caráter.
Após cada reunião os Painéis eram apagados. Este ato não era apenas uma medida de segurança para manter o sigilo das reuniões, mas também um ritual simbólico até por volta de 1725.
Figura 2 - Representação do painel em Giz e Carvão - Autor desconhecido
No livro de 1730 “Maçonaria Dissecada” de Samuel Prichard, relata-se o ritual que era utilizado na época, e temos em uma das preleções:
P. Por quanto tempo servis vosso mestre?
R. De Segunda-Feira de manhã a Sábado à noite
P. Como vós o servis?
R. Com Giz, Carvão e Argila.
P. O que eles representam?
R. Liberdade, Fervor e Zelo.
Com o passar do tempo e a evolução das práticas maçônicas, reconheceu-se a necessidade de uma solução mais duradoura e prática. Assim, os desenhos no chão foram gradualmente substituídos por painéis pintados em tecidos resistentes. Estes painéis eram dispostos no chão durante as cerimônias, transformando-se nos famosos tapetes ou "Tapis" maçônicos utilizados até os dias de hoje em alguns ritos como o de São João e o de Shöeder, esta evolução permitiu uma representação mais elaborada e permanente dos símbolos, facilitando seu estudo e contemplação.
Figura 3 “Catéchisme des franc-maçons “ de Leonard Gabanon, 1744
No entanto, mesmo esta solução não estava isenta de desafios. Possivelmente devido à umidade dos ambientes o desgaste era inevitável, fazendo com que esses tapetes se deteriorassem com relativa rapidez. Reconhecendo a importância de preservar estes valiosos artefatos simbólicos, os maçons desenvolveram uma nova abordagem: os painéis passaram a ser expostos suspensos na parede ou colocados em cavaletes. Esta mudança não apenas prolongou significativamente a vida útil dos painéis, mas também alterou a forma como eram percebidos e estudados, elevando-os ao status de obras de arte sagradas dentro do templo maçônico.
O Painel do grau de Aprendiz Maçom
Ao analisarmos o Painel de Aprendiz, identificamos imediatamente sua representação ideal de uma Loja/Oficina Maçônica, constituindo uma verdadeira “caixa de ferramentas” simbólicas de elevado valor pedagógico, contendo todos os conhecimentos e instrumentos de trabalho do Grau de Aprendiz Maçom. Esse conhecimento e instrumental remetem à Maçonaria Operativa e à construção dos Grandes Templos da humanidade, como o Templo de Jerusalém.
O Painel do Grau de Aprendiz reflete, em seu simbolismo, os fundamentos da filosofia maçônica de aperfeiçoamento moral do ser humano, indicando ao Aprendiz o caminho a ser trilhado no primeiro estágio de sua jornada, através do trabalho, observação, eliminação de defeitos e vaidades, até alcançar o domínio de si mesmo.
Embora sejamos hoje uma sociedade de livres pensadores em busca da virtude, verdade e perfeição, continuamos a ser construtores sociais, “pedreiros”, e os símbolos herdados de nossos antepassados ainda constituem o corpo e a alma da nossa Ordem. O Painel resume os ensinamentos simbólicos do grau, registrando todos os símbolos que o Aprendiz Maçom deve estudar e compreender.
Cada símbolo no Painel do Aprendiz possui um significado profundo. Todos os instrumentos de trabalho do Aprendiz Maçom são ilustrações de ferramentas de transformação da Natureza e do meio ambiente, tanto em uma abordagem material e profana quanto em um contexto de estudo e meditação que leva a transformações morais e espirituais. Alguns instrumentos requerem força para seu desenvolvimento, enquanto outros, mais precisos e delicados, exigem sabedoria e conhecimento para seu correto manuseio.
Entendendo o Painel do R∴E∴A∴A∴
Existem diversos Painéis que atendem os mais diferentes ritos e potencias no Brasil e no mundo.
Figura 4 Diferentes Painéis da Maçonaria
O painel que abordaremos aqui se refere ao do Rito Escocês Antigo e Aceito, este é composto por elementos simbólicos fundamentais: duas colunas, uma porta, três degraus que conduzem a um pórtico, um delta luminoso, com a letra hebraica Yod, três Janelas, uma pedra bruta e uma pedra cúbica. Também estão representados o sol, a lua, o esquadro, o compasso, a perpendicular, o nível, o malhete, o cinzel e a tábua de delinear. Uma corda com sete nós emoldura este painel, completando sua simbologia.
Figura 5 - Painel Francês Aprendiz Maçom
Passemos então ao significado de cada um dos símbolos que o decoram.
Joias móveis: Esquadro, compasso, Nível e Prumo.
Esquadro e Compasso:
O Esquadro é o símbolo do equilíbrio entre a vontade e a razão, a retidão de caráter. nos remete a ter uma vida reta, justa. Na construção, sem o esquadro as paredes não se encontram no final de um cômodo. Simbolicamente, representa o mundo material e que devemos medir nossas ações para que a nossa construção social seja reta. É o símbolo do V∴ M∴ dentro de loja.
O compasso representa o imaterial, divino, o espírito, algo que transcende e que nos rege. É a inteligência que comada e planeja as ações. Na construção ela é utilizada para traçar círculos e curvas mais elaboradas. Também representa a justiça pela qual devem ser medidos os atos dos homens, traçando um círculo que delimita um espaço bem definido.
Estas ferramentas quando unidas em loja aberta, representam o equilíbrio que deve nortear as ações do homem de bem.
O Compasso é o instrumento da inteligência que planeja e delineia, força criativa;
O Esquadro simboliza retidão e legalidade. Ambos, demonstram o domínio do Homem sobre si mesmo;
No grau de aprendiz, o esquadro fica sobre o compasso, para simbolizar que a matéria ainda domina o espírito.
Prumo e Nível
O Nível é utilizado na construção para garantir que uma área, objeto ou estrutura esteja nivelada e alinhada de acordo com uma referência horizontal ou vertical. Na maçonaria nos traz um aspecto filosófico interessante de equidade, tal qual é utilizado na construção, pois devemos nos nivelar para lembrar que todos os seres humanos são iguais. Também pode significar um símbolo de equilíbrio e retidão espiritual. É a ferramenta do 1º Vigilante.
O prumo, ou perpendicular, na construção também é um nivelador, utilizado principalmente para garantir que as paredes de uma construção não estejam tortas. Representa a retidão vertical, o desenvolvimento através do conhecimento e a retidão moral, prudência, bom senso. Não se envergando para não desmoronar. Em outras palavras, é a estabilidade. Esta é a joia do 2º Vigilante.
Ambos os símbolos representam retidão, equilíbrio, alinhamento etc.
Estão presentes, inclusive, na saudação do grau. Nos rituais antigos isso era mais claro, como descrito no livro Maçonaria Dissecada de Samuel Prichard, 1730:
“Assim como o Sol se põe no Ocidente para fechar o dia, assim os vigilantes se colocam no ocidente [Com suas mãos direitas sobre seus Peitos Esquerdos sendo um sinal, e depois o nível e o prumo pendendo de seus pescoços] para fechar a loja e despedir os homens do trabalho...
*Nota: Este sinal nos dias de hoje é chamado de “Sinal Penal” e faz referência ao juramento feito na iniciação. Porém, Aparentemente, antigamente o significado era outro.
Joias Fixas: Prancheta, Pedra Bruta e Pedra Cúbica Polida
Prancheta / Tábua de Delinear
Instrumento de trabalho e símbolo do Mestre Maçom.
Na construção, é na prancheta que o Mestre estabelece seus planos de trabalho e traça seus projetos a serem executados pelos Aprendizes e Companheiros. Seria o papel hoje desempenhado pelo arquiteto, de traçar planos e imaginar a construção antes de utilizar todas as outras ferramentas para executar.
A Prancheta está presente no Painel de Aprendiz para nos lembrar que devemos empenhar-nos na busca de conhecimentos elevados, de planejamento, de projeto para a obra a ser construída.
Traçamos o plano para utilizar todas as demais ferramentas do painel e executar a construção. Pois, construir sem planejamento dificulta sabermos o que iremos encontrar.
Tem a forma de um retângulo sobre o qual são indicados os esquemas que constituem a chave do Alfabeto Maçônico.
Pedra Bruta e pedra Cúbica Polida.
Pedra Bruta: Na antiga construção, não tínhamos fábricas de tijolos. Assim eram coletadas pedras deformadas e estas eram desbastadas até que tomassem um formato cúbico pronto para serem empilhados.
Simbolicamente, representa o aprendiz, com suas imperfeições a serem trabalhadas. Todos nós somos um “tijolinho da sociedade” e para tal, devemos desbastar nossas imperfeições para a correta construção social.
A pedra já desbastada, cúbica/polida, representa o Companheiro. Um homem já polido de suas asperezas, educado, instruído, que aprendeu a lidar com suas paixões e submeter suas vontades, livre de preconceitos, mas ainda em estudo e formação. Pronto para ocupar o seu lugar na construção de uma sociedade melhor.
Paramentos: O Delta e o Tetragrama
Para explicar de maneira mais aprofundada seria necessário um trabalho dedicado a estes temas. Para resumir:
O Delta é a quarta letra do alfabeto grego e o triangulo é considerado uma forma perfeita, sendo a primeira forma geométrica possível. Simboliza, dentre outras coisas, a sabedoria divina.
Ao centro, temos a letra Yod, que é a primeira letra do inefável nome de Deus (י ה ו ה) yod, he, vav, he.
Simboliza a sabedoria, a onipresença e nos lembra que sempre tem uma consciência superior nos guiando e protegendo.
Ornamentos
Sol e a Lua
O Sol é o símbolo da luz, o que representa o conhecimento e que leva ao aperfeiçoamento. O Sol é a fonte de vida. A luz clareia a escuridão, assim como o conhecimento e sabedoria acabam com a ignorância. Na loja representada pelo orador, que tem o poder da palavra e guarda as leis.
A Lua simboliza o elemento passivo, não emite sua própria luz, mas reflete a luz do sol. Representa a alma. fica ao lado sul representando o secretário, que da conta das atas e demais documentos refletindo o orador.
No caso do painel temos o quarto crescente, símbolo até hoje utilizado na cultura Islâmica. Nasce aproximadamente ao meio-dia e se põe aproximadamente a meia noite.
O sol e a lua no painel são um símbolo só. Representando os trabalhos do aprendiz que se iniciam ao meio-dia e se encerram a meia-noite.
Estrelas
As diversas Estrelas distribuídas de forma aleatória no Painel do Aprendiz do REAA simbolizam a universalidade da Maçonaria e lembra que os Maçons, espalhados por todos os continentes, devem, como construtores sociais, distribuir a luz de seus conhecimentos àqueles que ainda estão cegos e privados do conhecimento da verdade.
As Nuvens são a manifestação visível do céu, porque elas formam-se no alto, praticamente do nada.
Janelas
As três janelas estão posicionadas no Oriente, Sul e Ocidente. Simbolicamente, representam as três principais horas do dia: O nascer do Sol, O meio-dia e o por do Sol.
A do Oriente traz a doçura da aurora, suave e agradável, convidando o Obreiro para o trabalho; pela do Sul ou meio-dia, passa um calor mais intenso, que induz à recreação; pela do Ocidente entram os últimos lampejos de luz, do Sol poente, sempre mais fraca e que incita ao repouso.
A Loja possui 03 Luzes maiores e menores, as maiores são o esquadro, o compasso e o livro da lei, as menores são os que a governam: Venerável Mestre, Primeiro Vigilante e Segundo Vigilante. Essas 03 Luzes ficam localizadas em 03 lados do templo: Oriente (VM), Ocidente (1º Vig) e Sul (2º Vig).
O templo possui 04 lados, então um não possui Luz: o Norte! Por esse motivo, a Coluna do Norte é considerada o “lado escuro do templo”. O Aprendiz até pouco tempo atrás era um candidato na escuridão, desejoso de receber a Luz. Seu lugar é no lado mais escuro do templo onde, simbolicamente, sua visão poderá se acostumar com a Luz que lhe é dada aos poucos. O Aprendiz está no hemisfério norte, enquanto o Sol está fazendo seu giro do Oriente para o Ocidente inclinado ao Sul, o que indica que o Aprendiz está no inverno do hemisfério norte, quando as noites são maiores que os dias, ou seja, a escuridão ainda prevalece sobre a luz do dia. Isso está bem registrado nas instruções dos rituais mais antigos.
Colunas “B”, “J” e Romãs
As colunas têm o significado de Força e Beleza, ficando respectivamente à esquerda e a direita da entrada da Sala do Templo, no Átrio. A Coluna do Aprendiz é a “B”, simbolizando a força, e a “J” é a do companheiro, simbolizando a beleza.
A Força é necessária para qualquer ação e a Beleza é o capricho, a destreza, que adorna.
São referências a Bíblia Sagrada da construção do templo do rei Salomão. À coluna da direita foi dado o nome de Jachin (Yakin) e à da esquerda, Boaz.
Na tradução latina dos nomes, Yakin significa “Ele firmará” e Boaz, “nele está a força”, ou seja, “Ele firmará a força”; ou ainda, “nele está a força que firmará”, como quem quer dizer que Nele, em Deus, está a força necessária à estabilidade, ao sucesso. Assim sendo, as 2 colunas simbolizam a presença do Senhor no Templo e representam as colunas que sustentam, não superfícies, mas ideais para elevação.
As Romãs entreabertas existentes em cima das Colunas B e J, possuem diversos significados, sendo que os grãos reunidos simbolizam os maçons unidos entre si e por um ideal comum, a família maçônica unida e inspirada na ordem e na fraternidade, a caridade que contém tantas virtudes, e ainda, com seus numerosos grãos, representando a fecundidade.
Pórtico e Degraus
O Pórtico representa a porta de entrada para atingir a perfeição e o conhecimento da verdade. Ao adentrar no Templo, que representa o universo, o Aprendiz torna-se apto, pelo estudo continuado, trabalho, prática da filantropia e por uma formação moral e intelectual livre, a tornar-se um verdadeiro Maçom.
Os Três Degraus situados antes do Pórtico, representam a idade do Aprendiz, correspondente ao tempo que os Maçons Operativos necessitavam para serem elevados ao Grau de Companheiro. Também se referem ao número do Aprendiz: a Loja, iluminada por três luzes, os três passos da marcha, as três batidas da bateria, a idade de três anos, as três virtudes teologais. O número três está repleto de simbolismos e significados.
Orla Dentada
Trata-se do que hoje vemos sobre o trono do Venerável Mestre, em que a borda da cobertura do trono possui “dentes” com franjas, sendo comum atualmente serem feitos de gesso.
Como se sabe, os primeiros templos maçônicos eram planos e sua ornamentação precária. Por esse motivo, o retângulo onde se encontra o Altar dos Juramentos, o qual simbolicamente representa o Santo dos Santos, não era elevado, o que impedia de se ter uma Orla Dentada real. Por isso, a Orla Dentada precisava ser desenhada ou pintada no chão, ao redor do Pavimento Mosaico. Com o tempo e a forte presença do triângulo na simbologia maçônica, convencionou-se desenhar os “dentes” da orla em formato de triângulos, e assim surgiu o que atualmente se vê na maioria dos templos maçônicos espalhados pelo mundo.
A Orla Dentada, que circula todo o pavimento, está representada pela “Corda de 81 nós”, da qual pendem 04 borlas nos 04 cantos do Templo. Porém, com a perda de tal compreensão e do conhecimento da origem de tais símbolos, além da influência de outros Ritos, é comum encontrar templos do REAA no Brasil que possuem o Pavimento Mosaico restrito ao retângulo central, constituído também de Orla Dentada, ao mesmo tempo em que vemos a Corda de 81 nós sobre as colunas zodiacais, algo totalmente redundante. Onde se vê Orla Dentada não deveria existir Corda de 81 nós, e vice-versa. Dessa forma, não é de se surpreender com as dezenas de significados inventados para cada um desses símbolos: Rizzardo da Camino chegou a escrever que o Pavimento Mosaico representa a união das doze tribos de Israel, os dentes da Orla Dentada são os planetas que giram no Cosmos, e que a Corda de 81 nós absorve as vibrações negativas e as transforma em positivas. Castellani preferiu escrever que o Pavimento Mosaico representa a mistura de raças, a Orla Dentada é a união dos opostos, e a Corda de 81 nós representa a comunhão de ideias e objetivos de todos os maçons, tendo suas borlas o papel de representar que a Maçonaria é “dinâmica e progressista”. Não somente discordaram um do outro como suas suposições estavam erradas.
Maço/Malho e Cinzel
O Malho é um instrumento rígido e bruto, criado para potencializar a força, é um símbolo de vontade. Unido ao cinzel que é um instrumento direcionador de força, que a conduz no exato ponto onde se necessita, simboliza a inteligência.
A associação do maço com o cinzel nos indica que a vontade e a inteligência, a força e o talento, a ciência e a arte, a força física e a força intelectual, quando aplicadas em doses certas, permitem que a pedra bruta se transforme em pedra cúbica.
Como na elaboração de um trabalho, precisamos fazer uma pesquisa, adquirir conhecimento (Cinzel), e de nada adianta se não houver vontade, força e ação (Malho) para realização.
Corda de 7 nós
Este é o símbolo mais complexo do painel devido suas variadas interpretações e visões de diferentes autores.
Há quem diga que é uma representação sintética da corda de 81 nós, ou que representa as 7 virtudes (Fé, Esperança, Caridade, Prudência, Temperança, justiça e Fortaleza), os 7 dias da semana que Deus criou o mundo, as 7 artes liberais (Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia), dentre outros.
Estudar e interpretar todos estes significados são de suma importância para a jornada do Maçom, e apesar de não se ter apenas uma interpretação que podemos definir como CORRETA, todas elas complementam o trabalho para a construção social.
Entretanto, vamos nos debruçar sobre a origem do simbolismo da corda na maçonaria, que muito provavelmente deu origem as outras interpretações:
A origem da corda de 81 nós
Na Maçonaria contemporânea, a corda de 81 nós desempenha um papel simbólico fundamental, representando a união fraternal e espiritual que conecta todos os maçons ao redor do mundo.
O nó central, posicionado acima do V∴M∴, simboliza o Grande Arquiteto do Universo, esta disposição reforça a ideia de que toda a irmandade está unida sob uma força superior e universal.
A distribuição dos nós ao longo da corda também é repleta de significados. Os 40 nós na coluna do Sul e os 40 na coluna do Norte não são arbitrários, estas quantidades evocam diversos episódios significativos, tais como:
Os 40 dias que Jesus Cristo passou no deserto, como relatado no Evangelho de Mateus (4:2)
A duração do dilúvio, que segundo o livro do Gênesis (7:4) perdurou por 40 dias e 40 noites
O período de 40 dias que Moisés permaneceu no monte Horeb, no Sinai, como descrito no livro do Êxodo (34:28)
Outros eventos históricos e mitológicos que empregam o número 40 como símbolo de provação, purificação ou transformação
O número 81 pode, também, ter o seguinte significado: É 9 ao quadrado, que é 3 ao quadrado. O 3 é considerado perfeito em muitas culturas antigas. A sequência 3, 9, 81 simboliza uma progressão de importância.
Entretanto, é fascinante observar como o simbolismo da corda evoluiu ao longo do tempo. Na Maçonaria antiga, a corda originalmente contava com 12 ou 13 nós, um número com suas próprias conotações simbólicas. Esta versão mais antiga da corda era uma ferramenta prática utilizada pelos maçons operativos em seu ofício de construção.
O processo de preparação da corda de 12 nós era meticuloso e preciso. Os maçons iniciavam dando um nó em cada extremidade da corda. Em seguida, dobravam-na ao meio e faziam mais um nó. Este processo era repetido, resultando em quatro seções de corda, cada uma com três nós igualmente espaçados. A soma destes nós (3+3+3+3) totalizava os 12 nós intermediários. Com a corda esticada, ficavam 13 nós.
A aplicação prática desta corda era engenhosa. Quando disposta no chão, formava um triângulo retângulo perfeito, com 3, 4 e 5 nós em seus lados. Este arranjo criava um ângulo exato de 90 graus, essencial para a construção de um esquadro perfeito. O esquadro, por sua vez, era uma ferramenta indispensável nas construções da época.
Como podemos observar na imagem, a corda possuía 12 nós fechada formando o triangulo, ou 13 nós quando aberta. Por isso em algumas publicações que falam sobre a corda nas construções, corda de medição pitagórica ou corda do triangulo egípcio, por vezes falam em 12 nós, outras falam em 13. Ambas são o mesmo princípio.
A versatilidade desta ferramenta não se limitava à criação do esquadro. Com algumas adaptações, a mesma corda podia ser transformada em outras ferramentas essenciais:
Nível: Utilizando o esquadro como base e adicionando uma pedra na ponta da corda, criava-se um nível preciso.
Prumo: Amarrando pedras de igual medida em cada extremidade da corda, obtinha-se um prumo eficiente.
Trena: Os nós igualmente espaçados serviam como medição nas construções, as trenas só foram inventadas em 1922.
Compasso: Segurando uma das ponta da corda fixa em um ponto central e girando a outra ponta, formamos um círculo perfeito. Trabalho do compasso.
Além disso, o triângulo retângulo formado pela corda tinha aplicações ainda mais sofisticadas. Ele permitia aos construtores encontrar a proporção áurea, um conceito matemático e estético fundamental, especialmente na construção de catedrais góticas. Esta aplicação baseava-se na escala de Pitágoras, demonstrando a profunda compreensão geométrica dos antigos maçons.
A transformação do simbolismo da corda de 12 para 81 nós ocorreu, assim como muitos outros símbolos, devido a evolução da maçonaria e as mais diferentes interpretações filosóficas que foram surgindo com o passar dos anos. Esta mudança envolveu uma reinterpretação matemática, onde o sinal de adição (+) foi substituído pelo de multiplicação (×). Assim, o cálculo inicial de 3+3+3+3 = 12 foi transformado em 3×3×3×3 = 81. Esta alteração não apenas aumentou o número de nós, mas também adicionou novas camadas de significado simbólico à corda.
Originalmente utilizada para construir as primeiras e mais essenciais ferramentas do ofício, ela se tornou um emblema da união e da busca pelo conhecimento que caracterizam a Ordem. Infelizmente, muito deste rico simbolismo operativo foi gradualmente perdido após a Revolução Industrial, à medida que a Maçonaria se distanciava de suas raízes na construção física e se concentrava mais em seus aspectos filosóficos.
Conclusão
Percebemos que o painel do aprendiz maçom é rico em simbolismo, filosofia, esoterismo e exoterismo. É a representação completa da jornada do aprendiz maçom para se elevar em sua caminhada.
Devemos sempre utilizar a sabedoria para traçar os planos necessários (Prancheta) para sermos um diferencial na sociedade, combatendo o obscurantismo e o fanatismo, agindo com justiça e delimitando nossas ações (Compasso), amando uns aos outros e fortalecendo os vínculos fraternos (Orla dentada), utilizando sempre a inteligência (Cinzel) e a potência (Malho) para realizar qualquer tarefa que seja necessária contra os preconceitos e os erros, sempre utilizando a força (B) e realizando tudo com o devido capricho, fazendo sempre o melhor para adornar (J) nossas obras.
No entanto, isso só é possível se agirmos com o reto proceder (Esquadro), nivelando nossas ações no bem (Nível) e buscando sempre a evolução e o crescimento reto (Prumo).
Nossa missão é desbastar nossa Pedra Bruta, tornando-a cúbica com todas as arestas e imperfeições trabalhadas, assim poderemos lutar para promover o bem-estar da pátria e da humanidade, e utilizando todas as ferramentas necessárias para a construção de nosso templo interior, assim poderemos erguer templos a virtude e cavar masmorras ou vício.
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